Escrevo agora por só agora saber o que se passou comigo. O meu primeiro parto foi em 2013. Numa sexta feira comecei com contrações extremamente dolorosas, mas não fazia a dilatação. Estive em modo "pêndulo" entre casa e hospital de sexta a segunda, sendo que na segunda de madrugada depois de me chamarem de 《maricas》e dizerem que aquilo não era motivo para tantas visitas ao hospital, me rebentaram as águas e fui internada. Tinha 22 anos, não sabia ao que ia e nunca ousei duvidar dos profissionais que ali estavam. Por estar nervosa com o parto, ao me rebentarem as águas tremia muito e fiquei muito ansiosa e por esse motivo fui chamada várias vezes de 《maricas》e tratada de modo rude. Ouvi muitos gritos 《deita-te aqui》 e 《não te queixes》. Ao ser administrada a epidural as 2h fiquei mais tranquila e calma e pude finalmente ter o meu marido do meu lado. Quando o trabalho de parto iniciou gritaram comigo que eu "não sabia o que estava a fazer", "não sabia fazer força" e que tinha "mesmo de fazer força". Sim eu fazia força e o meu marido relata que se via todas as veias quando eu fazia força. Depois disso houve o comentário 《nao conseguimos resolver temos de chamar o médico. Mas falta meia hora para a mudança de turno vai ser uma chatice》. Quando o médico chegou, cortou, pediu ao meu marido q me pressionasse q barriga e nada, como continuava sem nascer uma enfermeira desviou o meu marido, colocou-se em cima de mim e deu-me varias vezes com a lateral do braço na barriga. Não foi simplesmente fazer pressao mas sim o equivalente a murros. Foram utilizadas ventosas e senti me rasgarem para a minha filha nascer. (Nunca me chegaram a dar outra dose de epidural. Explicaram-me posteriormente que o efeito da epidural dura 2h. Eu tomei a 1a dose as 2 e meia, ela nasceu as 7:56) Eu não me recordo de nada. Só da dor. Não tenho uma memória da minha 1a filha acabada de nascer porque o meu cerebro bloqueou com a dor. Senti me cozerem. Perguntei quantos pontos levei e disseram q era melhor nem saber. Não me recordo de como fui para o quarto. E o pior definitivamente ainda estava por vir. Poucas horas depois do parto (3 sensivelmente) mandaram me levantar e ir ao wc pelo meu pé. Eu disse q nao me sentia bem mas insistiram e eu assim tentei fazer. Primeiro mal os meus pés tocaram no chão foi um rio de sangue imenso o que veio com comentários que eu so dava trabalho. Depois ate à casa de banho desmaiei 2 vezes. 2 vezes cai redonda no chão. Chatearam-se comigo porque assim tinha de fazer xixi 《de outro modo》. Quando me colocaram a sonda queixei-me da dor e ouvi 《quando a estavas fazendo não gritaste》. Eu estava tão debilitada que engoli o choro. De noite estava tão apaixonada que não queria deixar me abalar pelos comentários maliciosos mas durou pouco essa convicção. Dar de mamar. Eu não tinha leite, nem uma pinguinha de colostro. E nem mamilo formado. A minha filha chorava desalmada com fome. Eu na minha inocência e por ver que não conseguia que ela pegasse no peito pedi o leite. A enfermeira mostrou desagrado e avisou que não me podia habituar. Nunca nenhuma enfermeira me ajudou. No dia seguinte outras enfermeiras tentaram me ajudar a amamentar mas nada resultou e continuava sem um pingo de colostro. Tentaram tudo, inclusive puxar-me o mamilo com uma seringa sem agulha e com a ponta cortada. O pouco mamilo que tinha estava em ferida e a desfarzer-se. Na segunda noite a mesma enfermeira qe me tinha negado o leite fez a minha filha estar 6horas sem comer para a obrigar a mamar no peito(resta saber o quê uma vez que eu não tinha leite). Essas 6 horas foram o inferno pois ela chorava desalmadamente. Inicialmente coloquei-a no colo para a acalmar e a enfermeira entrou no quarto e disse 《no colo mãe? Assim vai deixa-la mal habituada》. E eu, sem questionar coloquei-a na caminha. Pouco depois a mesma enfermeira entrou e passou-se a seguinte conversa que nunca irei esquecer enquanto viver《-mas não ouve a sua filha chorar? Não a coloca no colo porquê? Não gosta dela. -ela tem fome e está à 4horas sem comer. Eu já tentei dar o peito mas ela continua sem agarrar e eu continuo sem ter colostro. Pode me trazer o suplemento? -mãe, eu amanhã vou falar com a chefe de piso e vou pedir para não lhe darem alta. Você não está preparada para levar uma criança para casa.》... virou-me as costas. Pouco tempo depois e quando o choro se tornou insustentável voltei a chamar alguém para me trazerem o leite uma vez que apos o pedir nunca o chegaram a trazer. A auxiliar ao entrar no quarto disse 《OUTRA VEZ TU? Ja te trago o leite!》.. o leite apenas chegou quando fez as 6 horas e após me dizerem novamente que se eu continuasse sem querer amamentar a minha filha não me davam alta e que era porque eu não queria o melhor para a minha filha. Eu inconsolável e com a certeza q não podia ter feito mais para que ela mamasse liguei ao meu marido as 6 da manhã a implorar para ele me tirar de lá. Quando houve a mudança de turno voltaram a torturar-me com a seringa e nem um pouco de colostro saiu. Só pararam quando o medico entrou e perguntou que raio estavam a fazer. A enfermeira disse qe estavam a ver se conseguiam me formar o mamilo mas que iam pedir para que eu ficasse mais uma noite. Eu cai em lagrimas e implorei para me darem alta pois nao iria suportar ficar lá mais uma noite. Mediante o meu estado emocional deram me alta pois não queriam 《se responsabilizar pela minha depressão pos-parto》. Jurei a mim mesma que nunca teria outro filho. Tive dores horríveis a recuperar do parto e fiquei com uma depressão enorme. Quando voltei a engravidar ficava ansiosa cada vez que olhava para as janelas do 5o piso. Chegou o dia que tive de ir as urgencias e ao ver a enfermeira que me atormentou as minhas 2 noites de internamento tive um ataque de panico. Acabei por optar por um hospital privado para ter a minha 2a filha pois não suportava a hipotese de poder vir a passar pelo mesmo. A violência verbal marcou-me. A falta de humanidade também.
O que é o abuso obstétrico?
O abuso obstétrico consiste na intervenção clínica sobre a grávida/parturiente/puérpera, ou sobre o seu bebé, sem informação prestada à mulher alvo de intervenção e/ou sem o seu consentimento prévio, ou com consentimento prestado sob qualquer forma de pressão ou contra-informação, o que constitui, por si só, uma forma de abuso.
Evite o abuso obstétrico.
É possível prevenir o abuso obstétrico. A chave é a informação.
Reconheça e enfrente o abuso obstétrico.
É possível ultrapassar uma situação de abuso obstétrico. A chave é a partilha.
BEM-VINDO!
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