Direitos Humanos - Longe dos Olhos, Longe do Coração?

31-12-2010 22:03

Quando, há largos meses, nos dirigimos à Amnistia Internacional Portugal (AIP) com o intuito de alertar aquela Organização para o insustentável fenómeno do abuso obstétrico nos nossos hospitais, estávamos longe de prever a resposta que nos esperava, embora o modus operandi da generalidade das instituições nacionais nos tivesse levado a prever quase tudo, como possível reacção ao nosso apelo: falta de recursos para prestação de apoio, indisponibilidade dos recursos existentes, desconhecimento de causa, entre outros. Todos estes motivos fomos capazes de antecipar como justificação para o não envolvimento da AIP no intolerável atropelo aos mais elementares Direitos Humanos, consubstanciado em cada caso de abuso obstétrico replicado às centenas, diariamente, em Portugal.  O que não nos passou pela cabeça foi a resposta que acabou por vir ao nosso encontro: A AIP considera que o tema do abuso obstétrico sai das prioridades com que estão comprometidos os seus membros. Ou seja, a AIP não põe em causa a questão do abuso obstétrico como violação de Direitos Humanos, nem questiona sequer a dimensão deste fenómeno a nível nacional. Independentemente da gravidade da situação e do número de indivíduos por ela atingidos, a verdade é que esta não é uma prioridade aos olhos da AIP.

É verdade que a perseguição e  privação de liberdade vivida por  Liu Xiaobo, cidadão chinês galardoado com o prémio Nobel da Paz, tem uma visibilidade que o abuso obstétrico em Portugal não terá nunca. É verdade que a escalada de violência na Costa do Marfim impressiona muito mais facilmente o cidadão comum do que a violação dos Direitos de mães e bebés nas nossas maternidades. Essas são causas mediáticas, é certo. Mas quantas vezes as mais arrepiantes violações de Direitos Humanos acontecem no silêncio e na penumbra? Por isso, como mentoras do Projecto Mal Me Quer e com o devido respeito pelo parecer da Direcção da AIP,  entendemos que é nossa responsabilidade tornar óbvia a necessidade urgente de envolvimento da AIP nesta gritante realidade que é o abuso obstétrico, aqui, dentro de portas. Ou não fosse um contra-senso relegarmos para longe dos olhos e do coração uma forma de abuso que está tão perto.

Desta forma, vimos apelar ao inconformismo de todos os que entendem que é tempo de deixar a descoberto o atropelo de Direitos Humanos nas nossas maternidades, sob a forma de abuso obstétrico como o entende o Mal Me Quer. A petição está aí e cada subscrição representará um “SIM, ACONTECE. SIM, É PRIORITÁRIO!”, dirigido à Amnistia Internacional Portugal.

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